Transcrição de uma gravação ainda não explorada, registrada, a um quarto de século, por um navio rebocador.
"– Mano? – … – Mano? – … É você, maninha?! – Sou eu, mano! – Pelo amor de Deus, maninha, me diga que não estou enlouquecendo! – Não, maninho, não está, e não chore, encontro−me em paz. – De que forma se encontra em paz, maninha? – A passagem foi difícil, maninho. Permaneci por dias vagando no local. Vi você, papai, mamãe e outras pessoas queridas desejando compreender a cena. – … – Não chore, maninho, tudo já passou. – É saudade, maninha, muita saudade. – Eu sei, maninho, eu sei. – Rancorosa com Tony, maninha? – Estupidez a troco de nada, maninho. O mundo gira inversamente. Construir coisas amargas é bem mais fácil que construir apreciáveis sabores. Mas não se engane, maninho, o fosso é bem mais profundo. – A que se refere, maninha? – A coisas inexplicáveis, que não dão para esclarecer, nem mesmo através de bilhões de contatos. É muito complexo, maninho. – … – Maninho? – Estou ouvindo, maninha. – Não chore, maninho, não chore. Imagina que falo do alto, não é? – É, maninha. – Mas não, maninho, falo pertinho de você. Estamos pertinho de vocês, maninho, imperceptíveis aos olhos. Convivemos juntos maninho. Para que tudo azede, damos asas às cobras e sopro aos vermes. – Imaginei que fosse um mundo de elevação espiritual, maninha. – Embora uma simples árvore esteja morta, viva permanece, maninho. – Papai e mamãe, maninha… – Eu sei, eu sei, maninho. Diga−lhes que me encontro bem e em paz. – Raquel em breve dará à luz, maninha! – … – Maninha? Maninha? – … "