A nova residência, arrumada, estava pronta para receber as crianças.
– Retornarão por voltada das dezenove horas. – respondera Ledro à pergunta que lhe fora feita pela esposa. – E o que você pretende me dizer? – indagou ela. – Dá para perceber? – Como não, Ledro. A sua aflição é mais que visível. Ledro olhou em volta e, ao localizar papel e caneta, escreveu com letras grandes: “O bicho−papão”. Naula, após olhar, balançou a cabeça e disse: – Por favor, Ledro. Ainda com essa tola conversa? Imaginei que fosse apenas uma brincadeira momentânea. Ledro replicou que não se tratava de uma brincadeira, deveriam se precaver. Afinal, alguns colegas o advertiram, dizendo-lhe que o ideal seria não mencionar tal nome porque, ele aparecia. E levava consigo a pessoa que o desafiou. – Temo pelas crianças, Naula. Assim que chegarem, devemos conversar com elas a respeito. – … Meu Deus. Não estou acreditando… – Pois bem, Naula. Naquele bendito vilarejo, onde passamos as nossas últimas férias, as crianças brincavam com tal nome. Tão logo retornamos para casa, escutei Toli dizer para Didice: ‘Tomara que... te pegue.’ Didice sapateou e retrucou que estava se borrando de medo. – … Ora, Ledro… – Não estou achando graça, Naula, o assunto é sério. No horário prometido, os pais de Ledro devolveram os netos e partiram. Horas depois, Ledro, na presença da esposa, reuniu as cinco pequenas ingênuas criaturas e, com jeito, expôs o problema. Didice, a caçula, com quatro anos de idade, balançando a cabeça, parecia representar a turma: haviam compreendido sim. No entanto, frágil promessa. Pois, momentos após, a pequena Didice, que era um “raio”, escutou de um dos irmãos: – Tomara que o bicho−papão te pegue! Didice sapateou respondendo: – Estou me borrando de medo. Eram duas horas da manhã. Naula, sentada na cama, ouvidos sob escuta, chamava o esposo que dormia. – Que insistente rosnar é esse, Ledro? – perguntou ela. – … É algum cachorro perdido, Naula… – Não, não é Ledro! Está vindo do pátio. Levantaram−se e foram verificar. Avistaram, então, através da vidraça, uma peluda figura em poder de um saco. – Eu não disse, Naula! Algum dos garotos o atraiu. É o bicho−papão. – resmungou Ledro contrariado. O bicho−papão, impaciente, rosnava e caminhava de um lado para o outro. Mas, de repente, sumiu. Porém, quase simultaneamente, escutaram gritos desesperados das garotas. – Meu Deus. Está no quarto das meninas! – disse Naula transtornada. O bicho−papão, então no quarto das meninas, tentava arrastar Didice pelas pernas para dentro do saco. – Papai! Mamãe! – gritava ela esperneando, desesperada. – Não entre no saco, minha filha! – entoou o pai. Os irmãos também se fizeram presentes, e a luta contra o bicho se avolumou. Porém, nada adiantava, pois, como se fossem bonecos, eram atirados pelo bicho sobre os móveis e as paredes. – Socorro, ajude-nos! – gritavam sem abandonar a luta. E o bicho−papão, decidido, esforçava-se para colocar a chorosa Didice, branca que nem cera, no interior do saco. – Não entre no saco, meu anjo! – gritava Naula socando o bicho. De repente, escutaram uma interrogação. Fora a vizinha querendo saber que gritaria era aquela. – É o bicho−papão. Tenta levar a nossa menina! – respondeu Ledro aos gritos. – Acendam todas as luzes da casa que ele desaparece! Os garotos saíram desesperadamente pela casa, acendendo todas as lâmpadas. E o bicho desapareceu. – Mamãe! – implorou a sapeca Didice, trêmula e chorosa.