Emira, técnica em radiologia; Celena, montadora de computador; Jaspe, eletricista; e Alonso, dono de uma lojinha de ferramentas e apaixonado em ler curiosidades, criam engenhoso aparelho. Sem condições de aperfeiçoá-lo, tentam vendê-lo. No entanto, para surpresa recebem desconcertante resposta. A ideia de construção do aparelho nascera no reduto da boemia, conhecido como “Túnel Tenebroso”. Celena, em determinado momento, deixara escapar que havia dado certo. Emira quis saber a que se referia. Celena disse que, depois de ter fixado um olhar pensativo na nuca do rapaz com quem havia simpatizado, ele voltou-se para ela. Alonso, dedicado leitor de curiosidades, observou que aquilo se chamava telepatia. Arma inclusive de espionagem russa usada durante certo período. – Isso existe? – inquiriu Emira. – Semelhante aos raios, Emira. Você é técnica em radiologia. – replicou Alonso. A própria disse que a magia era interessante. Então semelhantes. Seriam capazes de desenvolverem um aparelho de adestramento em massa? Perguntou. – Existe uma vara de condão que se chama pensar, Emira. O que brota na mente existe. Basta que se ponha em prática. – respondeu Alonso. – Pretendo sair da pobreza. – destacou ela. (Cadeiras foram arrastadas para junto da mesa.) – Sou testemunha de que a coisa funciona. Isso daria dinheiro? – manifestou-se Celena. – Rodos de dinheiro. –… Mente direcionada… balbuciou Emira, reflexiva. – “Mente gerenciada”, Emira. Seria melhor. Da ideia de haver respeitáveis por trás. – replicou Alonso. A conversa foi evoluindo e o nome do elemento químico “xixite”, como assim dissera Emira, surgiu. – Eficiente e inofensivo. – garantiu ela. Três dias depois se reuniram os quatro inventores na residência do eletricista Jaspe, oportunidade em que se apresentou aos demais o protótipo do aparelho nascido no varar da madrugada da última recente noite de boemia. – Apresenta-se como idealizamos. – disse Jaspe, apontando para a caixa de metal de dimensões equivalentes à de um tijolo. – A mensagem será digitada no celular, passará pelos transistores, atingirá o “xixite” que Emira se encarregará de providenciar, e a radiação propagar-se-á através de uma pequena lâmpada. – Fantástico! – pronunciou Alonso. – Enchermos os bolsos? – indagou Celena. – Estou convencido disso. Porém, o teste é que dirá. Emira, confiante no sucesso do aparelho, bateu vaidosa sobre a mesa e disse: – O mundo nos pertencerá! Partiram para a experiência. Num bairro distante, avistaram um morador de rua deitado sob uma marquise. Estacionaram o carro e inciaram o teste. Jaspe digitou no aparelho celular a mensagem: “Levante-se e dance, dê seis pulos e volte a deitar.” A lâmpada acendeu e o cobaia imediatamente se levantou. Eles vibraram. Dançou, porém só dera dois pulos e voltou a deitar. A euforia esfriou. Emira mandou que repetisse o teste. O mesmo aconteceu. – Carece de fixador ou de antena. – observou Alonso. A antena foi fácil de encontrar e de adaptar. Porém o fixador não. Às 18:00 horas, numa praça movimentada, voltaram a testar o aparelho apenas munido de antena. Celena digitou no celular: “Riam, façam caretas e mexam a bunda.” A luz acendera e, imediatamente, os transeuntes começaram a gargalhar. Fizeram careta e mexeram a bunda. Vibraram! Porém, surto passageiro… – Não é possível. Repetiram o teste e o resultado não fora outro. – Carecemos de um fixador. – afirmou, convencido, Alonso. – Fala tanto em fixador. – resmungou Celena. – Ora, Celena. Serve para fixar na mente as mensagens emitidas. Sem o fixador as mensagens não são fixadas. Tentaram mas não conseguiram desenvolverem um fixador. Então resolveram vender a ideia para quem tivesse capacidade de desenvolvê-la. Escreveram para grandes instituições de desenvolvimento. Meses se passaram sem obterem resposta. Certo dia, no entanto, havia uma resposta na caixa de e-mail de Celena, a responsável pelo envio das correspondências eletrônicas. Felicíssima, decidiu acessá-lo na presença de todos. Reuniram-se na residência dela, esfregaram as mãos e ela acessou: “Idiotas retardados: Se pensam que criaram a roda, estão redondamente enganados. O fixador, panacas, existe a centenas de anos.” –… O que isso quer dizer?! – inquiriu ela, passada. Alonso com ares idênticos: – Meu Deus!
ILUSÃO OU FATO?