Com tal inquirição em mente: quem errou? Certo autor, tratou, de rever uma história escrita… Deu vida a Dóris, sua personagem principal.
– Sente-se. – disse ele. – Agradecida, chefe. – Você, Dóris, reclusa de uma casa de correção, tendo cumprido o período de sua condenação, tratou de dar fuga a Marialva para envolvê-la numa situação que a levaria à pena capital, não é verdade? – É verdade, chefe. – Por que fez isso? – Ora, chefe, ela havia desfigurado o meu lindo rosto. – Não acha que tenha sido um ato desproporcional ao fato sofrido? Dóris, olhando-o, demoradamente, respondeu: – Pimenta nos olhos dos outros é refresco, chefe. Tive o meu lindo rosto desfigurado. Além do mais, pratiquei um ato que considero comum. – Comum? – Ora, chefe, praticam-se, por aí, atos semelhantes por muito menos. – … Praticam-se atos semelhantes por muitos menos? – Sim! – Estou fazendo a análise desses atos, Dóris… Mas alguém iluminou essa sua cabecinha de vento, não é verdade? – O cirurgião plástico que me operou. Falando−lhe sobre o meu plano, afirmou que o meu lindo rosto já havia sido reconstituído. Portanto, deveria eu refletir sobre a maldade para que, mais tarde, não viesse a sofrer. – Você refletiu? – Refleti sim. – Refletiu, mas despachou a rival para o quinto dos infernos. Ela, olhando-o, se manifestou: – Está gagá, chefe? – Como assim, Dóris? – Ao ter sido submetida à cirurgia, já havia dado fuga à cadela. Passado. Saía com o cirurgião e o senhor, mais uma vez, nos colocou frente a frente. O autor, meditando a respeito… – … Vocês se encontraram num restaurante… – lembrou-se. – Daí é que ela, ao me reconhecer, passou a me provocar. Não resistindo às provocações, nos “embolamos”. Disse-me, depois da confusão, que, todas as vezes que nos encontrássemos, a ‘coisa’ seria daquele jeito. – Foi esse, pois, o motivo de você? … – Fora esse, pois, o motivo. Assim, ouvindo, o autor aprofundou seus pensamentos e prosseguiu: – O que você a fez? – perguntou−lhe. – Nunca lhe fiz nada, chefe. Desde que nos conhecemos, na casa de correção, ela era cismada comigo. – Inveja? – Não sei, chefe. – … E daí, Dóris? – Daí, posso concluir que as leis que regulamentam o uso de drogas em nosso país são duras. Recorri aos ‘amigos’ e preparei uma cilada para a cadela. Então, ao ser flagrada, tentando atravessar o estado, com um quilo de seu ‘presente’, grampearam-na e a fuzilaram. – …? – Algo mais que deseja saber, chefe? – perguntou ela. – Agradecido, Dóris. – Posso desaparecer? – Esteja à vontade. Desaparecendo, o autor acendeu o cigarro: – Quem errou, Senhor?