– Duda? – Lurdes. – … Pode falar, querida! – Orlando procurou-me hoje à tarde. Pediu-me lhe avisar que encontrou o seu diário. – Orlando? – Orlando “Saco de Bufa”. Particularidade, no entanto, essa não mais sobrevivente. Coisa do ginásio. – Encontrou o meu diário? – Disse-me que encontrou o seu diário. Não me mostrou, mas afirmou ter encontrado. Contou-me, inclusive, como aconteceu. Mudou-se recentemente para a casa de número 58, localizada na Rua … – … Puta que pariu, Lurdes! – Posso continuar? – Disse onde o encontrou? – No sótão. – Puta merda… nos mudamos às pressas. Esqueci que tinha entocado a merda do diário no sótão. Para mim estava guardado no baú. O que mais quis de você? – Deveria querer algo de mim? – Lurdes. – As pessoas sempre surpreendem. – Chantageou-me, sim. Disse-lhe que você se encontrava na Europa. Retrucou que a Europa estava mais próxima do que antes: o celular havia estreitado a distância. Disse-me, também, que, no passado, éramos íntimas amigas. Agora, amigas íntimas éramos. O histórico de nosso passado havia sofrido grande transformação. Observou. – Diz respeito a ele? – Óbvio que não. Existe algo de extravagante a meu respeito no diário? – Lurdes. – Por que deseja saber? – Você sabe quais são as nossas funções no banco. O Orlando é gerente da agência-sede, e eu presido o conselho curador da instituição. Então, ao se retirar da sala, disse-me que eu, certamente, mudaria de opinião quanto à indicação do nome dele para assumir a diretoria do banco. – Dissera à toa? – Duda. – Por duas vezes vetei o nome dele para assumir o almejado posto. – Por que fizera isso? – Rusgas da juventude que não cicatrizaram. Fomos, como você muito bem sabe, vizinhos e colegas de escola. Porém, nunca nos afinamos. – Posteriormente o destino os uniu no banco. – O que há no diário a meu respeito? – Lurdes. – Você sabe. – … – Escrevi o diário para mim. Nunca imaginei que, um dia, o abandonaria. Como também nunca imaginei que, um dia, o Orlando residiria na casa que residi e que encontraria o diário. Diário esse, comprometedor. – Sobre aquela noite, você entrou em detalhes? – Lurdes. – Como poderia detalhar? Enciumada, limitei-me a registrar que você foi a culpada da curra que levou. – Caso a presidência do banco saiba disso, lá se vão os meus quinze anos de trabalho. – Promova-o a diretor em troca do diário. Aposto que tudo ficará na condição de passado.
ILUSÃO OU FATO?