Todos os países cultivam lendas e crenças. São histórias dosadas de absurdos. Porém, existem histórias que gozam da possibilidade de serem verídicas.
Após ter lido sobre o desaparecimento de Suéli Honai, certo jovem procura entender qual seria a semelhança entre fábula, crença e fato. Sentavam-se em um dos bancos de uma sossegada praça. A senhora, ao ouvir a gratuita conversa, olha para o rapaz e pergunta: – Se eu acredito na existência de OVNIs? – Sim. –… Seria presunção dos terrestres achar serem os únicos habitantes desse belo, misterioso e extenso universo, senhor. − respondeu ela. – Existem também, senhora,… existem não. Existe uma situação especial que nem sei como acercá-la. Cito a história de Nosso Senhor Jesus Cristo. O que teria sido afinal? Um talentoso sensível e inconteste carnal cujos discursos coerentes e relevantes ainda desequilibra os aproveitadores, torce as orelhas dos imundos e dá força, fé e esperança aos incautos, ou fora um ser sobrenatural enviado por Deus? –… Ai, meus Deus… − reagiu a senhora. – Não é obrigada a responder. – Responderei sim… Bem, senhor, com tais nobres atributos… – Fora um ser sobrenatural enviado por Deus. – Claro que sim. – Existe um elo entre o céu e a terra? – Certamente. Ele, meditando, ela observou: – És jovem. – 27 anos. – De que trabalha? – De vigia. Atualmente vigio um prédio gigantesco abandonado há décadas. Quando não estou no posto de trabalho, os pássaros estão. Refiro-me à tranquilidade que é o local. – Encabulado com as supostas existências de lendas, crenças e OVNIS? –… Sim. – Nada mais? – E com os alicerces que apoiam um fato. – Com os alicerces que apoiam um fato? – Aproveito a tranquilidade que o local oferece para estudar. Leio também coisas à parte das tarefas escolares. No prédio há uma sala com uma montanha de jornais amarelados. Estive lendo sobre o desaparecimento de Suéli Honai. – Os meus pais falavam sobre esse ruidoso caso. – Segundo os jornais, um caso com ricos detalhes de sustentação de veracidade. Porém, desdenhado, pendeu para o esquecimento da mídia e do público. – Com o testemunho do recepcionista não poderia ser diferente, senhor. – A senhora pensa assim? – O público que pensou. O jovem olha, reflexivo, para o vazio e diz: – Em um dos jornais, senhora, há o seguinte questionamento: haveria outra explicação que justificasse o desaparecimento de Suéli Honai? Fato ocorrido em fração de segundos numa minúscula recepção? A senhora ri e, maldosa, replica: – Mistério, senhor. – Estou encabulado com isso, senhora. Conhece na íntegra a história do desaparecimento de Suéli Honai? – Na íntegra, não. – No dia 3 de março de 1957, Charles Plínio, contador da ainda conceituada loja de departamentos Agrinar, fora escolhido pelo patrão para representá-lo numa repentina audiência trabalhista que seria realizada aqui no fórum da capital. Às 20:30 horas, desembarcaram no destino pretendido: a nossa capital. Acomodaram-se num táxi e seguiram para o Hotel Garri. O motorista, ao parar o carro na porta do hotel, retrucou que não disponibilizava de troco para a importância apresentada. Verificasse com o recepcionista do hotel, caso não trocasse, deixasse o exato valor com ele que, no dia seguinte, passaria para pegar. Charles e Suéli adentraram o hotel. O recepcionista trocou o dinheiro. Charles retornou para efetuar o pagamento e, ao adentrar de volta, não viu a esposa. Olhou envolta. Não havia ninguém. Aproximou-se do balcão e viu o recepcionista desfalecido no chão. O táxi ainda não havia dado partida. Conversou com o motorista. Então, a partir desse momento, desencadeou-se a história do desaparecimento da mencionada mulher. O recepcionista permaneceu trinta dias desacordado. Houve, no ínterim, intensa investigação: esmiuçaram tudo. Para reforçar as palavras, tanto do Plínio quando as do motorista. Um outro chofer de táxi, que havia observado a movimentação na penumbra, contou que se dera em menos de vinte segundos. Nada mais restando para esmiuçarem, a concentração para se esclarecer o desaparecimento, fora depositada no testemunho do veterano recepcionista do hotel, o senhor Horácio. Quando saiu do coma, assim digo, holofotes voltaram-se pra ele. – Sei o que ele relatou, senhor. – Sabe? – A quase hóspede fora arrebatada por um anjo celestial. – Isso. – Por favor, senhor. − protestou ela. – Mas me intriga, senhora. Pois, segundo li, fora um caso com ricos detalhes de sustentação de veracidade, porém, desdenhado, pendeu para o esquecimento da mídia e do público. – Não se pode acreditar em tudo que se diz, senhor. – É justamente o que pretendo entender, senhora. Ela, olhando-o, viu que ele se ergueu. Recolheu os livros que descansavam sobre o banco e a cumprimentou: – Prazer imenso, senhora. − … Idem, senhor… A senhora, sem conseguir captar a exata colocação da resposta do rapaz, com as sobrancelhas unidas, ficou olhando-o se dirigir para o ponto de ônibus.