Foi descuido da portaria, evidente que foi. E por conta disso, Nancosta, uma jovem de 19 anos torna−se assassina.
O prédio, em que Nancosta residia com os pais era de alto luxo. Havia uma sofisticada e atenta portaria, cujo responsável, se descuidou. Residiam no décimo quinto andar. Os pais, ambos policiais, encontravam−se em viagem de férias. Nancosta, após ter retornado do apartamento da prima, moradora do mesmo pavimento, ao perceber a porta entreaberta assim reagiu: – Ué! Deixei−a encostada e não ao meio. Entrou, fechou a porta e, ao trancá−la, sentiu uma desesperadora inhaca no ar: – Nossa! Na sala, após ter deixado a ampla copa, onde apanhara do chão a toalha, cuja certeza fora a de que estava no lugar devido, abriu a bolsa a qual descansava sobre a poltrona e retirou o aparelho celular. Verificou as horas: 20h40min. O namorado prometera ligar assim que o voo estivesse partindo… Dirigindo−se para o seu dormitório, teve a impressão de ter avistado um inquieto vulto na copa. Retrocedeu os passos, porém, nada avistando, seguiu em frente… O vento noturno entrava farto no dormitório dos pais, adentrou e, por ali permanecendo, o celular tocou: – Já se encontra em casa, Nan? – perguntou o namorado. – Cheguei há pouco. – Alguma novidade? – … Não… – Pressinto que há. – observou ele. – Pressinto que há alguém aqui. – replicou ela. – Quem?! Vou descer da aeronave. – … Brincadeirinha… – disse Nancosta. – O comissário se aproxima, Nan, preciso desligar. Interrompida a ligação, pensativa, ficou olhando para o celular em mãos. De repente ergueu a cabeça, pois não fora pressentimento, havia escutado um barulho típico de copa: xícara ou pires espatifando−se no chão. – Tem realmente alguém aqui. – balbuciou erguendo−se assustada. Na ponta dos pés, dirigiu-se à porta e, mansamente, fechou−a e trancou-a… Os seus pais eram taxativos: em qualquer eventualidade, telefonasse para o tio. Fazendo isso, o aparelho celular não foi solícito, a bateria havia arriado, o carregador estava no interior da bolsa na sala. – … Não estou acreditando… Fitou o criado−mudo da direita. Ali havia um telefone fixo. Tensa que estava, evitou pensar na instabilidade dos nervos da mãe… Arrastar prolongado de cadeira. Objetos indo ao chão. Escutava. – Quem será, meu Deus? Dirigiu-se à janela. Aquela face do prédio dava para um vale. Pensando em pedir ajuda a um dos vizinhos do pavimento superior ou inferior, voltou-se para o interior do cômodo, pois o barulho escutado vinha do seu quarto: o seu aquário provavelmente havia ido ao chão… Na sequência, batidas na porta do dormitório em que se encontrava foram dadas e uma ordem produzida numa voz feminina de baixa qualidade: – Abra a porta, vadia! – …?! – Abra a porta desgraçada! Batidas, e pontapés na porta se intensificaram. – Vaca, cachorra, vadia, desgraçada, vagabunda. Abra a porta, sua puta! – … Meu Deus… A porta, a qualquer momento, iria abaixo… Olhou para o armário. Seus pais não costumavam portar armas quando viajavam em férias. Encontrou-as. A primeira delas, cujas mãos tocaram, elegeu. Sabia manusear aquilo, estava carregada, verificou. Abandonou o armário e se posicionou defronte à porta. – Saia pra fora, vagabunda! – ouviu. Ninguém brincaria daquela maneira. Um chute a mais e o trinco não resistiria. – Vou lhe matar desgraçada! Apavorada, não pagou para ver. Disparou de encontro à porta uma, duas, três, quatro vezes… Tudo aquietado, junto à porta. Espiou, através de um dos orifícios aberto pelo robusto calibre. Havia um corpo no chão… Queria sair dali. Abriu a porta e, ignorando o abate, saltou o corpo e correu em busca de um porto seguro. – Assassinei uma pessoa… – confessou transtornada à prima. Inacreditável, fora a mendiga. “Credo”. Uma mulher enorme, de aspecto horrível. Perambulava pelas ruas do bairro gesticulando e falando ao vento.