Valério, até aquele momento não tinha pensamento formado sobre a moral da história.
O jornalista Santiago e o cinegrafista, fariam ali uma reportagem. Cerca de cento e cinquenta pessoas se faziam presentes. Aguardavam a revelação de certa mensagem para adentrarem a gruta. Viria de uma coletiva concedida pelo comandante da Marinha que seria realizada a mil quilômetros distantes dali. Antes de iniciar os trabalhos, Santiago conversou com o ansioso público. Em dado momento, um senhor confessou que o irmão dele dera ouvidos a tolices; adentrara a gruta e jamais retornara. No entanto, embora tardio, reconhecia que ele e os parentes equivocaram-se em relação ao tratamento dispensado ao irmão ‘imbecil’. Por que reconhecia o equívoco? Por que o pronunciamento do comandante da Marinha não seria rarefeito. Seria respaldado do nome Francesco Pombar. Cidadão que também havia adentrado a gruta e jamais retornara. Nome, como todos sabiam, de influência sadia sobre a cultura, política e arte. Portanto, os seus familiares jamais consentiriam especulação vã do nome do ente consagrado. A esposa que ali se encontrava e ele aguardavam a revelação caso os convencesse adentrariam. Os trabalhos jornalísticos foram iniciados. Santiago então disse que relatos populares afirmavam que a gruta dava acesso a um mundo encantado. Porém, das dezenas de pessoas que haviam acessado o local, ninguém havia retornado para endossar a suposta afirmação. Todavia, algo de significativa importância havia sido encontrado: a “garrafa correio”, enviada supostamente por Francesco Pombar. Sobre aquele material encontrado do qual o comandante da Marinha falaria, revelaria a curta e incisiva mensagem enviada por Francesco Pombar, cujo compromisso firmado em revelar a mensagem, não era para provar que um mundo encantado existia. E sim para se posicionar contra conservação de segredos. Porque acreditava que uma das maiores dificuldades enfrentadas pela humanidade era o segredo. Vetava ainda, segundo ele, raciocínio equilibrado sobre fatos.
O jornalista e o cinegrafista ainda viajariam setecentos quilômetros para filmar o apontado local onde a garrafa fora encontrada. Com mais solavancos, chegaram ao destino. Rochas imensas e vegetações! Das bases das rochas fluíam águas cristalinas. Santiago, dando prosseguimento à reportagem, disse que fora ali que o pescador tinha recolhido a garrafa. Havia saído boiando das entranhas das rochas. Acreditava-se que Francesco Pombar a descansou nas águas do rio existente no interior da terra. E ela, a garrafa, seguiu seu rumo. Ao revelar-se naquele ponto, o pescador a recolheu. Caso não tivesse recolhido, seguiria de encontro ao mar como se podia avistar adiante.
No salão de coletiva do prédio da Marinha, havia centenas de convidados e jornalistas. Santiago e o cinegrafista, obviamente, estavam presentes. O destemido comandante da corporação ocupava o centro da comprida mesa, ladeado por autoridades. Sobre a mesa próxima a ele, encontrava-se a “garrafa correio”. Iniciou a coletiva tecendo agradecimento aos presentes e destacou o nome Miraldo, pescador que encontrou a misteriosa garrafa boiando nas águas do minadouro Greide. Ao içá-la, como havia contado, leu o aviso: “Confidencial”. Ciente da jurisdição que a Marinha exercia sobre eles, a entregou. Fato ocorrido há quinze anos. A garrafa fora aberta por oficiais, quando se constatou, escrita em uma folha de papel, uma curta mensagem cuja assinatura constava: Franscesco Pombar. Iniciou-se então levantamento da veracidade daquilo. Uma vez, os familiares do mensageiro, consultados, não tiveram dúvidas da originalidade da caligrafia: idêntica à de muitos manuscritos que tinham guardados… Assim dito, calçou luvas tipo cirúrgica, abriu a garrafa, retirou o papel e leu a curta e incisiva mensagem: "Vivemos felizes e em harmonia de emanações recíprocas. Limpas, filtradas e polidas. Francesco Pombar".
O comandante da marinha ao se propor revelar tal segredo havia dito que uma das maiores dificuldades enfrentadas pela humanidade era o segredo. Independente do teor. Vetava raciocínio equilibrado sobre fatos.
ILUSÃO OU FATO?